Os automóveis têm cada vez menos personalidade. A diversão foi ultrapassada pela eficiênca e é curioso que tenha sido a Toyota (líder mundial em híbridos) a desenvolver e produzir o GR86, um pequeno desportivo 2+2 que mostra o lado mais primitivo da condução e do próprio automóvel.
Fotos: Paulo Calisto
Às vezes parece que o mundo perdeu uma parte da sua alegria. Foi a Toyota a marca percursora de uma mudança que atualmente alcançou um novo nível com os automóveis elétricos. A marca japonesa alterou o mercado automóvel com o lançamento de modelos híbridos, plug-in e elétricos que, em parte, perdem toda a essência daquilo que é conduzir. Por isso, o GR 86 tenta recuperar uma condução de outros tempos. Este é um carro que procede de outra era, não a do futuro, mas a do passado.
Depois do GR Supra e do GR Yaris, dois “monstros” da eficácia e prazer de condução, a marca japonesa traz para a ribalta o GR86, uma evolução do GT86, que já era um automóvel focado na dinâmica, com um espírito purista e claramente desportivo. Esta nova geração convence, porque melhora nas prestações, na rigidez da carroçaria, no tato de condução e… na estética.
Em termos de dimensões, este Toyota chega aos 4,26 m de comprimento, 1,77 m de largura e 1,31 m de altura. Nem nos damos conta do quão pequeno é. A distância entre eixos de 2,57 m traduz-se num interior para quatro passageiros na clássica disposição 2+2. O lugares dianteiros são generosos em habitabilidade, até mesmo para passageiros de estatura elevada, já os lugares traseiros são apenas meros espetadores, a não ser que sentemos neles crianças.
Deixando o “espaço” de lado, na verdade este Toyota disponibiliza tudo aquilo que precisamos. Apesar do equipamento deste modelo não ser o principal motivo da sua aquisição, propõe tecnologias como o painel de instrumentos parcialmente digital, multimédia com ecrã tátil de 8″, conetividade para dispositivos móveis e um discreto equipamento de segurança e assistentes à condução com câmara traseira para estacionamento. Bem, o GR86 centra-se naquilo que é importante, a condução. Conta com um novo motor boxer de quatro cilindros de 2.387 cm3, 16 válvulas e injeção direta. Sem a presença de um turbo, consegue alcançar os 234 CV às 7000 rpm e um binário de 250 Nm às 3700 rpm. Trata-se de um motor muito vivo nos regimes de rotação mais baixos. As recuperações são excelentes, mesmo nas relações de caixa mais longas. Acoplado a este bloco, encontramos uma caixa manual de seis velocidades com um punho no sítio certo, de relações curtas e precisas que aproveitam ao máximo as prestações do motor. É claro que este GR86 melhorou em muito mais “coisas” face ao GT86. É 50% mais rígido e mais leve graças à utilização de materiais como o alumínio no teto e nos guarda lamas dianteiros. Tudo junto favorece um centro de gravidade baixo, que se torna evidente na hora de o conduzir. Encontramos ainda um novo ajuste da suspensão e uma largura de vias diferente em cada eixo; 1,52 m à frente e 1,55 m atrás. Tudo contido numa “embalagem” que pesa 1346 kg.
Começamos a condução pelo cenário mais habitual, a estrada. O GR86 destaca-se pelo conforto e utilização simples no dia-a-dia. Apesar de ter ganhado rigidez estrutural, é um automóvel com o poder de enfrentar viagens longas sem problemas de maior (desde que não viaje ninguém atrás). Os engenheiros da marca japonesa conseguiram o melhor equilíbrio entre firmeza e estabilidade. Ainda que seja um desportivo brando, que não procura a precisão máxima, o Toyota não é velocidade pura, mas sim sensações puras. Numa estrada de curvas, tipo Serra da Arrábida, rapidamente se entra em sintonia com ele. A união com tudo o que encerra, como o motor, a embraiagem ou a caixa de velocidades é um processo natural. Desfruta-se mais numa condução normal, assim para o mais alegre, do que a rolar no limite. A traseira insinua-se com facilidade e graças a um chassis extraordinariamente nobre não é difícil colocá-la em deriva. A direção tem uma resposta rápida e a caixa de velocidades tem tanto de precisão como de facilidade de utilização. Como não é muito potente, andar de pressa sem ter medo é o “pão nosso de cada dia”. Neste caso, é uma enorme sensação de gozo esticar todas as relações acima das 6000 rpm e ouvir o som do escape, sempre muito sincero e com um melodia de estremecer.
O mais delicado neste Toyota, são mesmo os travões. De série, o GR86 traz discos ventilados, não perfurados e com pinças de dois pistões. A marca propõe dois pacote opcionais que melhoram esta parte.
Ficha técnica
Toyota GR86
Tipo de motor – Gasolina, quatro cilindros boxer, atmosférico
Cilindrada – 2.387 cm3
Potência – 234 CV às 7000 rpm
Binário máximo – 250 Nm às 3700 rpm
Velocidade máxima – 226 km/h
Aceleração – 6,3 s (0 a 100 km/h)
Consumo – 8,7 l/100 km (misto)
Emissões de CO2 – 198 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 4.265 mm/1.775 mm/1.310 mm
Pneus – 215/45 R17
Peso – 1339 kg
Bagageira – 226 litros
Preço – 53 600 €
Gama desde – 53 600 €
IUC – 251,44 € €
Lançamento – agosto de 2022