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Os automóveis têm cada vez menos personalidade. A diversão foi ultrapassada pela eficiênca e é curioso que tenha sido a Toyota (líder mundial em híbridos) a desenvolver e produzir o GR86, um pequeno desportivo 2+2 que mostra o lado mais primitivo da condução e do próprio automóvel.

Texto: Ricardo Carvalho
Fotos: Paulo Calisto

Às vezes parece que o mundo perdeu uma parte da sua alegria. Foi a Toyota a marca percursora de uma mudança que atualmente alcançou um novo nível com os automóveis elétricos. A marca japonesa alterou o mercado automóvel com o lançamento de modelos híbridos, plug-in e elétricos que, em parte, perdem toda a essência daquilo que é conduzir. Por isso, o GR 86 tenta recuperar uma condução de outros tempos. Este é um carro que procede de outra era, não a do futuro, mas a do passado.
Depois do GR Supra e do GR Yaris, dois “monstros” da eficácia e prazer de condução, a marca japonesa traz para a ribalta o GR86, uma evolução do GT86, que já era um automóvel focado na dinâmica, com um espírito purista e claramente desportivo. Esta nova geração convence, porque melhora nas prestações, na rigidez da carroçaria, no tato de condução e… na estética.

Um pequeno desportivo

Em termos de dimensões, este Toyota chega aos 4,26 m de comprimento, 1,77 m de largura e 1,31 m de altura. Nem nos damos conta do quão pequeno é. A distância entre eixos de 2,57 m traduz-se num interior para quatro passageiros na clássica disposição 2+2. O lugares dianteiros são generosos em habitabilidade, até mesmo para passageiros de estatura elevada, já os lugares traseiros são apenas meros espetadores, a não ser que sentemos neles crianças.
Deixando o “espaço” de lado, na verdade este Toyota disponibiliza tudo aquilo que precisamos. Apesar do equipamento deste modelo não ser o principal motivo da sua aquisição, propõe tecnologias como o painel de instrumentos parcialmente digital, multimédia com ecrã tátil de 8″, conetividade para dispositivos móveis e um discreto equipamento de segurança e assistentes à condução com câmara traseira para estacionamento. Bem, o GR86 centra-se naquilo que é importante, a condução. Conta com um novo motor boxer de quatro cilindros de 2.387 cm3, 16 válvulas e injeção direta. Sem a presença de um turbo, consegue alcançar os 234 CV às 7000 rpm e um binário de 250 Nm às 3700 rpm. Trata-se de um motor muito vivo nos regimes de rotação mais baixos. As recuperações são excelentes, mesmo nas relações de caixa mais longas. Acoplado a este bloco, encontramos uma caixa manual de seis velocidades com um punho no sítio certo, de relações curtas e precisas que aproveitam ao máximo as prestações do motor. É claro que este GR86 melhorou em muito mais “coisas” face ao GT86. É 50% mais rígido e mais leve graças à utilização de materiais como o alumínio no teto e nos guarda lamas dianteiros. Tudo junto favorece um centro de gravidade baixo, que se torna evidente na hora de o conduzir. Encontramos ainda um novo ajuste da suspensão e uma largura de vias diferente em cada eixo; 1,52 m à frente e 1,55 m atrás. Tudo contido numa “embalagem” que pesa 1346 kg.

Ao volante

Começamos a condução pelo cenário mais habitual, a estrada. O GR86 destaca-se pelo conforto e utilização simples no dia-a-dia. Apesar de ter ganhado rigidez estrutural, é um automóvel com o poder de enfrentar viagens longas sem problemas de maior (desde que não viaje ninguém atrás). Os engenheiros da marca japonesa conseguiram o melhor equilíbrio entre firmeza e estabilidade. Ainda que seja um desportivo brando, que não procura a precisão máxima, o Toyota não é velocidade pura, mas sim sensações puras. Numa estrada de curvas, tipo Serra da Arrábida, rapidamente se entra em sintonia com ele. A união com tudo o que encerra, como o motor, a embraiagem ou a caixa de velocidades é um processo natural. Desfruta-se mais numa condução normal, assim para o mais alegre, do que a rolar no limite. A traseira insinua-se com facilidade e graças a um chassis extraordinariamente nobre não é difícil colocá-la em deriva. A direção tem uma resposta rápida e a caixa de velocidades tem tanto de precisão como de facilidade de utilização. Como não é muito potente, andar de pressa sem ter medo é o “pão nosso de cada dia”. Neste caso, é uma enorme sensação de gozo esticar todas as relações acima das 6000 rpm e ouvir o som do escape, sempre muito sincero e com um melodia de estremecer.
O mais delicado neste Toyota, são mesmo os travões. De série, o GR86 traz discos ventilados, não perfurados e com pinças de dois pistões. A marca propõe dois pacote opcionais que melhoram esta parte.

Mas, tal como já lhe dissemos, este GR86 não é precisão pura nem sequer pretende sê-lo. Numa condução mais desportiva traz à tona o seu lado mais “hoolingan” e despreocupado, e a verdade é que é sempre assim, até porque não há modos de condução possíveis. A única possibilidade é ativar o modo Track, alterando assim o comprtamento do ESP, libertando-o de limitações. É muito fácil soltar a traseira e não é preciso ter mãos particularmente habilidosas para controlar a sobreviragem, ainda que seja preciso saber aquilo que se está a fazer. De qualquer forma, a diversão é sempre garantida. A condução é de outro tempo, um tempo melhor e mais divertido… mais um carro para guardar na memória. Infelizmente não é barato, até porque já não há carros baratos. Custa a partir de 53 600 euros.

Ficha técnica
Toyota GR86

Tipo de motor – Gasolina, quatro cilindros boxer, atmosférico
Cilindrada – 2.387 cm3
Potência – 234 CV às 7000 rpm
Binário máximo – 250 Nm às 3700 rpm
Velocidade máxima – 226 km/h
Aceleração – 6,3 s (0 a 100 km/h)
Consumo – 8,7 l/100 km (misto)
Emissões de CO2 – 198 g/km
DIMENSÕES (C/L/A)        4.265 mm/1.775 mm/1.310 mm
Pneus – 215/45 R17
Peso – 1339 kg
Bagageira – 226 litros
Preço –  53 600 €
Gama desde – 53 600 €
IUC – 251,44 € €
Lançamento – agosto de 2022

Ricardo Carvalho

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