Conduzimos, em exclusivo, o M-Hero I, um SUV de origem chinesa diferente de tudo o que se vê por cá. Inspirado em modelos militares, este portentoso veículo 100% elétrico pesa quase 4 toneladas (carta de pesados), anuncia 1.088 CV e… passa por cima de toda a folha.
Parte integrante do grupo chinês Dongfeng (ver páginas 26 e 27), a M-Hero representa a vertente mais radical e aventureira do consórcio asiático que acaba de chegar ao mercado português pelas mãos da Salvador Caetano.
O M-Hero I é um SUV de dimensões generosas: quase 5 metros de comprimento por mais de 2 m de largura e perto de 2 metros de altura, números que fazem dele um autêntico “tanque de guerra”. O aspeto robusto e “quadradão” contrasta com tudo aquilo que vemos nas nossas estradas. Na essência, apresenta-se como uma espécie de cruzamento entre um Hummer e um Tesla Cybertruck, cujo aspeto marcial não é pura coincidência. Tal como o Hummer ganhou fama na guerra, o M-Hero I tem raízes militares; a empresa-mãe Dongfeng é um dos principais fornecedores do exército chinês e pode equipar o MHero-1 com camuflagem e extras como um lançador de pregos, por exemplo.
Porém, este “super” SUV não se fica apenas pelas aparências, na medida em que a sua tecnologia de propulsão torna obsoletas muitas convicções: quatro motores elétricos de 272 CV e 350 Nm cada, um por roda, proporcionam-lhe um total de 1.088 CV e 1.400 Nm de binário máximo, colocando-o na “pole position” em qualquer tipo de terreno. No alcatrão, por exemplo, a aceleração dos 0 aos 100 km/h é despachada em 4,2 segundos e a velocidade máxima é de 195 km/h. Números que ganham outra sobranceria se tivermos em atenção que o seu peso médio ronda as quatro toneladas. Aliás, o facto do M-Hero I ser tão pesado deve-se, em parte, à sua dimensão e construção robusta, mas também à enorme bateria CATL que torna possível tal proeza. Com um recorde de 142,7 kWh, é suficiente para uma autonomia de cerca de 450 km.
Depois dos números
Independentemente dos números, o mais interessante é perceber que sensações nos transmite este M-Hero quando nos sentamos no banco do condutor. Primeiro, e aberta a porta, somos brindados com um degrau amovível elétrico para ajudar a subir para o SUV chinês. A estética mais quadrada do exterior não tem continuidade no interior. Lá dentro, o M-Hero parece um SUV premium, requintado, luxuoso, com o teto e as portas forrados a alcantara. Espaço não lhe falta e os bancos dianteiros são duas poltronas ultra confortáveis com almofada no encosto de cabeça. O volante, tirado a papel químico do Range Rover, tem o tamanho certo e a pega ideal, enquanto no tablier pontificam três ecrãs, um para painel de instrumentos, outro central para o infoentretenimento e um terceiro à frente do passageiro. Pormenor delicioso é o facto de o puxador da porta do lado de dentro ter a forma de uma pistola Colt com gatilho e tudo, ou não fosse este um veículo inspirado em conceitos militares.
Bem sentados ao volante podemos ainda observar o punho da caixa de velocidades e as “roletas” dos modos de condução, bem como o comando que permite levantar e baixar a suspensão pneumática; a distância ao solo na posição mais baixa é de 24 cm, mas é possível fazê-lo subir para 34 cm, o que deixa antever uma superior capacidade na transposição de obstáculos e nas passagens a vau, que podem chegar a um metro. Por último, referência para o generoso espaço a bordo.
Por cima de tudo…
Botão start/stop no volante pressionado, alavanca da caixa em D… estamos prontos. A suavidade com que o M-Hero pisa o asfalto é de louvar, parecendo que estamos a flutuar. Contudo, convém ter alguma atenção à escolha do percurso, já que as ruas/estradas mais estreitas podem obrigar a manobras extras devido às dimensões avantajadas do conjunto e a um diâmetro de viragem de 10 metros. Ainda assim, o eixo traseiro é direcional e roda cerca de 4º.
Em estrada, o M-Hero 1 transforma-se no centro das atenções, sendo impossível passar despercebido. A aceleração é, de facto, brutal, com os 1.088 CV a darem sinal de si ao primeiro pisar mais forte no acelerador. Já fora do asfalto conta com cinco programas de condução (neve, lama, areia, pedras, água e auto) e bloqueios mecânicos dos diferenciais dianteiros e traseiro, apesar de na prática não precisarmos de recorrer a eles. Basta apontar para o obstáculo e sentimo-nos donos do mundo. O M-Hero 1 sobe qualquer coisa e avança por cima de tudo, seja buraco, pedra, passagens de água… não há limites, sempre com os ocupantes envolvidos por um conforto absoluto e num ambiente bem insonorizado. Claro que não há milagres, e os consumos assim o provam: 30 kWh/100 km, embora com uma condução cuidada seja possível baixar este valor.
Em jeito de conclusão, a propulsão elétrica não justifica todos os excessos, e só porque o M Hero-1 é elétrico não significa que seja razoável. Mas é um brinquedo perfeito para quem gosta de marcar a diferença ou para os condutores aventureiros que, acima de tudo, tenham dinheiro, pois sempre são qualquer coisa como 175 mil euros. Mais, para o conduzir em Portugal terá de possuir carta de pesados (categoria C) porque o peso bruto ultrapassa os 3.500 kg. Ou seja, o que o país asiático não tem em tradição automóvel compensa com extravagância e potência, muita potência.
Texto: Ricardo Carvalho
Fotos: Paulo Calisto
FICHA TÉCNICA
M-HERO 1
TIPO DE MOTOR Quatro, síncronos de íman permanente (um por roda)
POTÊNCIA 1.088 CV
BINÁRIO MÁXIMO 1.400 Nm
TRANSMISSÃO Integral, caixa de relação única
BATERIA Níquel Manganês Cobalto (NMC) de 142,7 kWh
AUTONOMIA (WLTP) 450 km
TEMPO DE CARGA 8,5 h a 11 kW CA (100%)
45 min. a 150 kW CC (30-80%)
VELOCIDADE MÁXIMA 195 km/h
ACELERAÇÃO 4,2 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 15,7 kWh/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 0 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 4.987 / 2.080 / 1.935 mm
PNEUS 275/65 R20
PESO + de 3.500 kg
BAGAGEIRA 452 l
PREÇO Cerca de 175.000 €
LANÇAMENTO 202