A transição da Abarth para a eletrificação faz-se com o 500e, que procura agradar à base de adeptos mais tradicional da marca italiana, mas também conquistar uma nova geração. Os 155 CV de potência podem nem parecer muito, mas este pequeno desportivo tem vários trunfos na ‘manga’ para se fazer notar.
Ao trilhar o caminho da eletrificação, a Abarth teve, naturalmente, de enfrentar alguns desafios, como a questão do peso (usualmente mais elevado num elétrico) ou a ausência da sonoridade de um motor de combustão, algo que muitos adeptos da marca italiana consideram indispensável (será mesmo?). Contudo, ao encarar o Abarth 500e como um desportivo citadino, percebe-se que os seus responsáveis fizeram um ótimo trabalho a conceber um automóvel capaz de combinar todas as facetas típicas de outros modelos do seu passado, adaptando-as agora à mobilidade sem emissões.
Visual mais agressivo
Sem surpresa, a base é a do Fiat 500e, mas esteticamente é muito mais agressivo, o que se percebe pelos para-choques mais robustos, assinatura luminosa distinta em formato de semicírculo, a palavra ‘Abarth’ em cinzento titânio escuro ou as jantes de 18” desta versão Turismo, a mais equipada. Num toque particular, o escorpião estilizado nas laterais está agora associado a um relâmpago, noutro sinal de que este Abarth é elétrico.
O interior revela, novamente, enorme proximidade com o ‘primo’ da Fiat, sobressaindo pela boa construção e qualidade geral, mesmo que os materiais dominantes sejam o plástico, com exceção de uma larga inserção em Alcantara no tablier e encosto de braços em revestimento macio nas portas. Entre os elementos especiais contam-se o volante desportivo com marcador central e os bancos desportivos, ambos com revestimento em pele e Alcantara. Tudo para um ambiente muito bem conseguido, complementado ainda por atributos tecnológicos como o painel de instrumentos TFT de 7,0”, com grafismos diferenciados, ou o ecrã multimédia tátil de 10,25”, que dá guarida ao mais evoluído sistema Uconnect NAV com páginas dedicadas à performance do veículo. Não têm enorme profundidade informativa, mas enriquecem a experiência geral. Os sistemas Apple CarPlay e Android Auto são conectáveis sem fios.
Outros pormenores importantes são os botões para abertura das portas ou os locais para arrumação em grande número. Quanto à habitabilidade, sem surpresa: os lugares traseiros são bastante acanhados, servindo essencialmente para crianças, sobretudo se o condutor ou passageiro da frente forem mais altos, o que retira ainda mais espaço aos ocupantes traseiros. Com 3,6 metros de carroçaria, não é uma circunstância inesperada…
Agilidade emocionante
Este 500e tem várias alterações técnicas face ao Fiat correspondente, desde logo com uma largura de vias maior (60 mm), novas molas e amortecedores e a inclusão de discos de travão no eixo de traseiro. O construtor transalpino aplicou ainda um conjunto motor/bateria mais robusto para as exigências constantes de aceleração, oferecendo 155 CV (114 kW) e 235 Nm de binário. Estes valores não são brutais, mas para um modelo de pequenas dimensões permitem oferecer prestações emocionantes, encostando o condutor ao banco quando o pedal do acelerador é pressionado a fundo. Impulsivo, este Abarth impressiona nas acelerações e nas retomas, sobretudo quando escolhido o modo de condução ‘Scorpion Track’, que altera o mapeamento do acelerador e a entrega da potência. Há ainda mais dois modos (‘Scorpion Street’ e ‘Turismo’), sendo que ambos têm como ponto negativo uma elevada regeneração sem possibilidade de a alterar. Apenas o ‘Scorpion Track’ não exibe essa desaceleração evidente, acabando por ser o modo preferível para condução mais desportiva permitindo ao condutor o total controlo da travagem – até porque o pedal tem bom tato.
A bateria de 42 kWh está montada sob o piso entre os dois eixos, ajudando na obtenção de um baixo centro de gravidade. Isso permite tirar partido de um chassis com excelente estabilidade direcional, sendo muito gratificante de conduzir – que é algo que não se pode apontar a muitos elétricos – e sem prejudicar o conforto. Além de ser muito divertido, este 500e também ensaia um truque para cativar os céticos da eletrificação – um altifalante (de série no Turismo) que replica o som de um motor de combustão com escape Record Monza. Prós e contras: está muito bem conseguido e sobe convincentemente de ‘rotações’, mas em velocidade de autoestrada o som torna-se fastidioso, obrigando a parar assim que possível para desativá-lo. Este é outro ponto a melhorar: não se pode ligar ou desligar o som em andamento.
Voltando às virtudes, o consumo médio do ensaio foi de 14,5 kWh/100 km, bem abaixo do valor homologado, permitindo uma autonomia realista em torno dos 250 km, curta, ainda assim, mesmo para um citadino. A versão Turismo apresenta um preço de 42.030 €, um valor elevado mesmo para um elétrico ousado no comportamento e na abordagem.
Texto Miguel Silva
Fotos Paulo Calisto
CONCLUSÃO
O novo 500e é um digno sucessor dos pergaminhos desportivos da Abarth: comportamento e prestações emocionantes e uma dose tecnológica convincente são atributos determinantes. A questão da sonoridade, por exemplo, revela a vontade de fazer algo diferente. Já o preço torna-se no principal entrave para este escorpião elétrico que também sabe fazer barulho.
FICHA TÉCNICA
ABARTH 500E TURISMO
TIPO DE MOTOR Elétrico, síncrono de ímanes permanentes, dianteiro
POTÊNCIA 155 CV (114 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 235 Nm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa de relação única
BATERIA Iões de lítio, 42,2 kWh (37,8 kWh úteis)
AUTONOMIA (WLTP) 252 km
TEMPO DE CARGA 4h25 a 11 kW AC (0-100%)
35m a 85 kW DC (10-80%)
VELOCIDADE MÁXIMA 155 km/h
ACELERAÇÃO 7,0 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 18,1 kWh/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 0 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 3.673 / 1.682 / 1.518 mm
PNEUS 205/40 R18
PESO 1.485 kg
BAGAGEIRA 185 L
PREÇO 42.030 €
GAMA DESDE 38.030 €
IMPOSTO DE CIRCULAÇÃO (IUC) 0 €
LANÇAMENTO Novembro de 2023