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Fizemos uma entrevista exclusiva ao atual campeão do Rally Dakar na categoria de camiões ao volante do seu Kamaz – Dimitry Sotnikov e aqui lhe deixamos as principais ideias da conversa que mantivemos com o vitorioso piloto russo.

1 – Um pódio com três Kamaz e um outro camião Kamaz na sétima posição da classificação final do Rali Dakar deste ano. Esperava este resultado antes de começar a corrida tendo em conta as dificuldades do Dakar na Península Arábica?

Sim, este ano alcançamos um resultado genial, mas não o podemos conquistar todos os anos, não acontece assim com tanta frequência. O último triplete aconteceu há seis anos, em 2015. Nos último anos também aconteceram derrotas e apenas dois camiões no pódio. Este ano, os três camiões Kamaz conseguiram subir ao pódio apesar de todas as dificuldades do percurso e da própria corrida. Com se pode ver, a diferença entre a primeira e a terceira posição na meta é de aproximadamente de uma hora e vinte, uma hora e quinze. É uma diferença muito grande, por isso todos os concorrentes tiveram a oportunidade de subir ao pódio. Todos tiveram problemas e todo lutaram contra eles. Apenas o que perdeu menos tempo na corrida chegou ao pódio. O leque de tempos mostra a dificuldade da luta e o percurso complicado deste ano.

2 – Um roadbook eletrónico entregue 10 minutos antes do início da etapa, com menos retas de alta velocidade e um limite de velocidade de 90 km/h nos troços mais perigosos. Como influenciaram estes fatores o seu estilo de correr?

O Dakar mudou muito depois de ser transferido para a Arábia Saudita. Tendo em conta a experiência do ano passado, demo-nos conta das paisagens que nos esperavam, mas este ano os organizadores aplicaram um nova norma: o roadbook eletrónico. Era descarregado ou entregue 10 minutos antes de cada saída, tempo que depois aumentou para 20 minutos, porque a navegação era um dos pontos chave nesta corrida. Foi difícil para todos, especialmente na primeira metade da corrida, porque nunca tínhamos utilizado este dispositivos anteriormente. Era a nossa primeira experiência. Isto significa que aquele que melhor compreendeu esta novidade e que trabalhou melhor com a navegação teve uma vantagem inicial. Não existiam retas, mas contudo pareceu-me bem: a luta foi ainda mais intensa. Na Arábia Saudita, os troços passam por menos zonas povoadas, pelo que existem menos limites de velocidade que na América do Sul. É melhor para a própria corrida. O roadbook era mais intenso. A mim pessoalmente me ajudou a estar mais concentrado, mais atento. Conduzimos sempre com cuidado e essa técnica acabou por resultar.

3 – Pode descrever, com detalhe, a história da sua prova deste ano? Quais os pontos mais marcantes do rali deste ano?

A parte chave foi a primeira metade da corrida. Conseguimos ganhar 4 SS, tinhamos uma margem de tempo e isso permitiu-nos rolar com mais calma e precisão. A corrida complicou-se e houve momentos nos quais estivemos muito nervosos pois nem sempre saiu correu tudo bem, tivemos problemas de navegação, furos nas rodas, zonas de trial perigosas, nas quais podíamos ter ficado parados com alguma avaria por períodos de 30 a 40 minutos. Tentámos trabalhar ao nosso ritmo, sem baixa a velocidade… eu sentia que devíamos manter o nosso ritmo.

4 – Qual foi o piloto mais difícil de bater este ano? Macik? Loprais? Vishneuski? Van den Brink?

Tivemos rivais muito fortes. Este ano Martin Macik melhorou muito, desenvolveu o seu camião que passou a contar com uma caixa automática. Estava cheio de vontade, sobretudo na segunda metade da prova, de subir na tabela, até porque seguia a bom ritmo. A primeira metade não lhe correu de feição, mas acredito que no próximo ano vai correr não só pelo pódio como também pela vitória. Loprais é um dos rivais mais experientes e perigosos. Tenta sempre conduzir rápido e consegui-o em vários troços. A luta de Loprais e Macik foi o melhor da segunda parte da prova. Loprais teve alguma falta de sorte, mas competiu com muita vontade. Aliaksei Visheuski melhora a cada ano. Em 2021 teve um camião novo com capô e que era muito competitivo. A sua equipa venceu o prólogo: Siarhei Viazovich foi o primeiro e Visheuski fue foi o segundo. Temtaram manter-se juntos, mas os problemas técnicos deixaram Aliaksei um pouco mais para trás, ainda assim durante o resto da corrida mostrou um resultado muito equilibrado. Acredito que no próximo ano vai estar sempre no grupo da liderança. O azar persegue Van den Brink pois parece que o camião não o deixa conduzir ao seu ritmo. É um piloto experiente, por isso esperamos que em 2021 melhore o seu camião e consiga chegar ao grupo dos líderes. Gostaria também de falar num chileno que já ganhou três vezes nos quads, Casale. Não esteve mal na primeira vez que correu ao volante de um camião e fiui rápido em algumas SS. Talvez ainda não tenha experiência suficiente, mas parece um piloto muito inteligente e que analisa bem o percurso. Olha sempre com atenção para o piloto, como conduz e o que conduz. Considero que se vai manter na categoria de camiões e poderá vir a ser um líder. Estamos à espera de Gerard de Rooy em 2022. A luta nos novos camiões será ainda mais intensa.

5 – Disse, tal como Vladimir Chagin, que o sucesso deste ano se deveu a toda a equipa da Kamaz. Pode explicar o papel do camião neste resultado?

O seu Kamaz 4309, com motor Dongfeng-Cummins de 13 litros e caixa automática, foi tão fiável e eficaz como o esperado?
O papel do camião é enorme. Diria que 50% é responsabilidade do veículo e os 50% são das pessoas que se sentam na cabina do camião. Da forma como estão preparados e como podem utilizar a potência do mesmo. O camião é fruto do trabalho de toda uma equipa, não só este ano como também nos anteriores. É uma experiência de vários anos. O nível da equipa aumenta a cada ano e considero que os nossos camiões são dos melhores de acordo com as especificações técncias, incluindo o motor. Fico satisfeito que a sua potência permita superar dunas e leitos de rios arenosos. Estamos sempre a desenvolvê-lo ao nível do motor, mas também no chassis. A vitória é o resultado de toda a equipa, da correta preparação dos camiões e das pessoas.

6 – Pode descrever-nos o seu estilo de condução? É agressivo, frio, tático?

Talvez tenha um pouco de cada um desses estilos. Considero que o estilo deve incluir todas estas caraterísticas: agressivo, frio, tático. Às vezes o estilo é agressivo, talvez seja aquele que mais gosto. Na primeira metade do Dakar foi assim, mas na segunda parte penso que terá sido mais tático e mais frio. Demo-nos conta de toda a situação e tentamos atuar de acordo com o momento, reduzindo os riscos. Muito atletas mudam de stilo durante a corrida. Os ralis diferenciam-se de outras corridas porque é preciso perceber o que se faz na estrada a cada dia.

7 – Onde se sente melhor a correr? Em troços rochosos? Areia como no deserto? Dunas ou estradas estreitas e ventosas?

Considero que para andar no grupo da frente do Dakar e querer ganhar, é preciso que nos sintamos bem em todos esses tipos de percurso, começando pelas pedras e terminando nas dunas. Se não gostar de todas estas superfícies nunca serei forte para lutar pelo primeiro lugar. às prefiro os troços com curvas de um rali clássico. O camião permite conduzir de forma eficaz, mas é um veículo perigoso se não estivermos habituados a um determinado tipo de troço. Ten treinar em todos os tipos de terreno, em todas as direções por igual.

8 – Pode dizer-nos quais os passos significativos da sua carreira como piloto de camiões de rali? Onde e quando começou a conduzir camiões de rali?

A minha carreira de piloto começou aos 8 anos de idade, quando o meu pai foi comigo a um kartódromo Aos 9 anos já entrava em competições e até aos 15 anos corri sempre de kart. Dos 15 aos 18 anos competi em corridas circulares na categoria OKA junior. Depois apareceu mis uma classe e representei a ZMA (fábrica de veículos ligeiros) que na época estava na nossa cidade. Entretanto fiz uma pequena pausa para terminar a faculdade. Depois regressei à equipa onde corria de buggy e onde trabalhei com Valentin Nikolaev durante 3 anos. Numa das temporadas acabei por ser premiado na taça da Rússia. Em 2011, comecei a testar camiões e a partir de 2012 corria a primeira temporada ao volante de um veículo destes… agora é o que mais gosto.

 

Ricardo Carvalho

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