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Uma das principais notícias da semana passada foi o ignorante momento em que duas ativistas inglesas decidiram atirar sopa de tomate a um dos mais icónicos quadros de Van Gogh, tendo posteriormente colado as suas próprias mãos à parede onde este quadro descansava. De uma forma estranha, mas previsível, este tipo de ação foi replicada mais e mais vezes no decorrer desta semana. Honestamente, tenho muita dificuldade em perceber o que os girassóis do pintor neerlandês ou a rapariga com o brinco de pérola podem ter feito para ofender alguém, mas não estou aqui para julgar ideias abstratas de cérebros incompreensíveis. Acho, muito sinceramente, que não há vivalma que afirme que a arte é mais importante do que a vida, mas posso ser eu que estou a ser demasiado intransigente.

Ainda assim, por muito que não compreenda o ato em si, acabo por me sentir empático com a ideia por detrás do mesmo. Logicamente que quem fez isto queria apenas alertar a humanidade para o caos eminente em que nos encontramos em relação às alterações climáticas e nada contra isso. Mas será mesmo esta a forma certa de chamar a atenção das pessoas? Será que este tipo de atitudes não nos leva a afastar-nos ainda mais deste tipo de ativismo ambiental?

Um pouco por todo o mundo temos visto protestos de ativistas que se sentam no meio da estrada com lonas enormes e cabelos mal lavados, e param completamente o trânsito, afetando a vida de pessoas que vão trabalhar, que vão ao hospital, que vão aos correios ou que vão às compras. Em geral afetando a vida de toda a população. Qual é o resultado? Raiva e muita frustração. Porque na verdade se eu defendo uma posição e quero lutar por ela, e se preciso que as pessoas se coloquem do meu lado, terei de fazer de tudo para que essas pessoas fiquem realmente do meu lado e não é a ter um impacto negativo nas suas vidas que o vou conseguir.

E é este ativismo desmedido e muitas vezes sem sentido, que faz com que uma grande parte da população se afaste desta luta. É este tipo de ativismo que faz com que, mesmo que se queira apoiar a causa, acabemos por ter aquela pontinha de vergonha alheia por muitas ações e atitudes daqueles que, aparentemente, não sabem estar. Já desde o início dos anos 90 que os avisos sobre a atividade humana e a sua relação com alterações climáticas têm vindo a crescer e a ser cada vez mais divulgados, mas, numa espécie de antítese, há mais pessoas que diminuem a existência de alterações climáticas e que até lhe chamam uma visão “woke”. Para mim, a relação para este afastamento é direta.

Mas coloquemo-nos nos sapatos de outros e pensemos. Pensemos bem a fundo sobre qual poderá ser a solução. Esta, segundo dizem, é literalmente “Just Stop Oil”. Mas pergunto: e qual é a alternativa, mesmo? É que acredito veemente que ninguém se opõe a soluções que realmente tenham impacto e que possam realmente mudar as nossas vidas e as de gerações futuras, mas vamos por partes e pensemos como podemos mover 8 mil milhões de pessoas diariamente. Uma solução muito na moda são os automóveis elétricos, à qual me oponho logo à partida e passo a explicar o porquê.

Em primeiro lugar, e talvez o que mais me afasta desta solução, é a falácia das zero emissões. Uma propaganda mentirosa que omite grande parte daquilo que está envolvido no processo de produção de automóveis elétricos que, obviamente, emite CO2 e outros gases. Ainda para mais, a mobilidade elétrica exige baterias que, como é sabido, são produzidas utilizando metais pesados que são tudo menos amigos do ambiente e que requerem mineração, tratamento, processamento e fabrico, o que, da mesma forma, envolve emissão de gases. Como se não bastasse, grande parte da energia elétrica produzida a nível mundial provém de fontes não renováveis como carvão, petróleo e gás que, como já podem ter adivinhado, emitem gases com efeito de estufa.

Em segundo lugar vem, claro, o constrangimento causado por grande parte dos automóveis elétricos, principalmente em países em que as infraestruturas estão atrasadas. Portugal é um desses exemplos e conto-vos uma história que aconteceu com uns amigos ainda há uns tempos. Numa simples viagem de 100km, um pequeno erro que aumentou a distância em 10km, obrigou-os a fazer uma paragem intermédia para carregar as baterias para poderem chegar ao destino. Ainda para mais, no primeiro posto de carregamento que encontraram, a tomada adequada não estava disponível, pelo que tiveram de continuar a procura que eventualmente teve sucesso. Chegados ao destino, o carro precisava de carga novamente e adivinhem; o posto de carregamento que se localizava nessa zona estava ocupado por carros que eventualmente acabaram por lá passar mais de 5 horas!

Então, qual é mesmo o benefício direto para além de uma sensação de superioridade moral de se estar a ajudar o ambiente, quando na realidade a diferença é muito pouca e causa constrangimentos? É que concedo imediatamente que os motores de combustão, no período total da sua vida acabam por ser mais danosos do que os elétricos, mas quando a diferença é perto de marginal, qual é o objetivo de investir seriamente numa meia solução que será substituída por algo melhor num futuro próximo? Para quê enterrar milhares de milhões de unidades de moeda em infraestruturas quando estas serão obsoletas numa questão de décadas?

Benéfico seria ignorarmos meias soluções e focarmos os esforços em desenvolver seriamente tecnologias que permitam um real avanço na mobilidade e na proteção do ambiente. Hidrogénio, por exemplo! Porque não se financia mais e mais e mais aquele que é evidentemente o futuro? Porque é que não se fala cada vez mais no hidrogénio? Porque é que os fabricantes insistem em fabricar modelos elétricos horrendos com os problemas que estes carregam? Não vou supor sobre a razão, mas tenho as minhas suspeitas e acredito que vocês também as tenham, mas o que me deixa mesmo desanimado é a atitude que nós, como Humanidade, temos em relação a isso. Comportamo-nos como uma mosca. Uma mosca que bate insistentemente no vidro numa tentativa de sair. Esperemos, então que alguém se lembre de abrir a janela.

Just Stop Nonsense!

Por: Nuno Freitas Faria

Ricardo Carvalho

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