Levou o seu tempo, mas a Toyota entra diretamente na era elétrica pelas “mãos” do bZ4X, SUV que marca um antes e um depois na marca japonesa. O Ariya assume papel idêntico na Nissan, que apostou na eletrificação total há alguns anos, mas demorou a ampliar a gama sem emissões. Contudo este SUV também deixa dúvidas acerca de um horizonte sustentável. Vejamos então o que oferece cada um deles e qual será a melhor escolha.
A Toyota foi a primeira marca a apostar na eletrificação e já produz carros híbridos há praticamente 30 anos. A Nissan foi a criadora de um dos primeiros carros elétricos produzidos em massa que se transformou numa alternativa real a modelos com motor de combustão: o Leaf. No entanto, e apesar das duas marcas serem pioneiras nestas “coisas” da eletrificação, não são as referências quando se fala de carros elétricos. No caso da Toyota, porque precisou de mais tempo do que a maioria dos construtores para apostar neste tipo de modelos, já a Nissan adiantou-se, é verdade, mas o Leaf manteve-se como proposta única durante demasiado tempo, e hoje em dia, limitar a oferta deste tipo de produtos é ficar para trás.
Mas, tudo mudou. Tanto a Toyota como a Nissan consideraram este como o momento ideal para aderirem em força à onda elétrica. A mudança de rumo foi evidenciada pelo lançamento de dois SUV que reivindicam o papel principal de ambas as marcas na mobilidade sustentável. De qualquer forma, o Toyota bZ4X e o Nissan Ariya, serviram para dar um murro na mesa e deixar claro que estes dois gigantes japoneses estão preparados para a nova era automóvel.
Por isso, estes SUV são uma espécie de demonstração de força daquilo que os responsáveis de cada marca sabem (e podem) fazer. E são-no desde o ponto de vista do seu design futurista (numa e noutra marca é o caminho a seguir para novos lançamentos), mas também do equipamento que, pelo menos nestas versões, é mais habitual em segmentos superiores. A sua lista de equipamento de série não podia ser mais completa e não está ao alcance dos seus homólogos, em tamanho, de cada marca: Toyota RAV4 e Nissan Qashqai,
O Nissan também consegue distanciar-se da restantes oferta da marca em termos de qualidade, uma vez que utiliza melhores materiais e a sua montagem é realmente sólidos. A insonorização do habitáculo também merece uma nota especial. Neste aspeto, o bZ4X está um passo atrás, pois o plástico e o tecido são maiores protagonistas no seu habitáculo, embora seja verdade que a respetiva montagem é muito sólida e a Toyota também fez um bom trabalho de isolamento do interior.
Os primeiros
No entanto, se ambos são referências nas respetivas marcas, é porque assumem o papel de porta-estandartes tecnológicos, pelo menos na Europa. São produtos que marcam um antes e um depois nos respetivos construtores, o bZ4X por ser o primeiro automóvel elétrico a bateria de produção (na Toyota, o Mirai, mais veterano, é elétrico mas a partir de uma pilha de combustível para ser reabastecido com hidrogénio, razão pela qual quase não se vende).
Por seu lado, a Nissan parecia ter acabado de apostar na eletrificação total, limitando-a ao compacto Leaf, mas o Ariya deixa claro que as coisas progrediram e que, a partir de agora, os elétricos vão ganhar muito peso no seu portfólio.
De facto, desenvolveu este carro sobre a plataforma CMF-EV da aliança Nissan-Renault e equipou-a com baterias mais modernas do que as do Leaf, ainda com refrigeração líquida. Existem duas opções, uma de 63 kWh, precisamente a desta versão comparada e que é reservada ao Ariya menos potente (com um único motor de 218 CV), e uma opção de 87 kWh que combina vários níveis de potência: um motor e 242 CV e dois motores (incluindo tração integral) para 306 ou 394 CV.
Em suma, os 218 CV do Ariya, mais económico, são suficientes para mover quase 2.000 kg de peso. Para se ter uma ideia, esta versão acelera dos 0 aos 100 km/h em 7,5 segundos, valor que não é muito rápido, mas fá-lo com o imediatismo típico de qualquer carro elétrico, pelo que não falta potência, nem em estrada, onde não há problemas em ultrapassar, nem muito menos na cidade, onde é mais ágil e confortável do que seria de esperar num carro com o seu peso e volume.
O mesmo calcanhar de Aquiles
É fácil de conduzir em qualquer cenário, mas é particularmente confortável em estradas rápidas. Além disso, tem vocação estradista, embora, na prática, a sua autonomia o limite bastante. Um único carregamento é normalmente suficiente para percorrer cerca de 300 km em condições reais. Isto faz desta versão de 63 kWh uma alternativa muito mais urbana do que as versões com bateria de 87 kWh, mas é, obviamente mais barata.
De tal forma que até ganha a batalha do preço contra o Toyota. O bZ4X também oferece tração simples ou integral, a primeira com 204 CV e a segunda com os mesmos 218 CV do Ariya. Com o nível de equipamento mais completo, este último custa mais 1400 euros do que o seu concorrente, isto na versão 4×2 em teste, embora o seu equipamento não seja tão completo e lhe faltem detalhes como um volante com regulação elétrica ou bancos dianteiros ventilados, por exemplo.
Por outro lado, o Toyota move-se ainda melhor do que o seu rival e com menos potência, apesar de ser maior e um pouco mais pesado. Em estrada, está ao nível dos seus rivais em termos de conforto e qualidade de condução, mas também tem a mesma limitação: a autonomia da bateria (maior que a do Nissan e de 71,4 kWh), que também é arrefecida a líquido, mas não o suficiente para viajar durante muito quilómetros: no papel, estão anunciados 411 km em ciclo combinado, mas na prática permite percorrer apenas 300 km, o mesmo que o Ariya. Neste caso, não existem versões “Long Range”, o que seria apropriado para um modelo que leva a Toyota para a esfera elétrica. Além disso, há uma mão-cheia de modelos semelhantes provenientes da China que fazem muitos mais quilómetros com uma carga, pelo que o bZ4X precisa claramente de opções de maior autonomia para os acompanhar. Por exemplo, o Ariya também está disponível com uma autonomia de mais de 500 km, solução que acaba por complementar esta gama e dar-lhe mais argumentos.
Sensível à utilização
Também ajudaria se a bateria do Toyota não fosse tão sensível às condições de utilização. Conduzir com o ar condicionado ligado ou desligado faz uma diferença de cerca de 100 km na autonomia estimada e, na verdade, um automóvel desta gama e caraterísticas não se pode dar ao luxo de deixar o condutor ficar demasiado quente ou demasiado frio para evitar que o carro fique… “encalhado”.
De igual modo, falta uma capacidade de carregamento da bateria mais rápida, solução que também não existe no Ariya. Mais concretamente, o Toyota aceita picos de 150 kW em corrente contínua, enquanto o Nissan mal chega aos 130. Como se pode imaginar, quando confrontados com viagens longas, estes valores são escassos e exigem paragens prolongados e frequentes para recuperar a energia necessária para completar a viagem. Para serem referências tecnológicas, têm de o ser a todos os níveis.
Texto Álvaro Ruiz
Fotos Paulo Calisto
CONCLUSÃO
A Nissan acaba por ter preços mais competitivos do que os do bZ4X, o que, juntamente com o seu equipamento de série superior e melhor habitabilidade, fazem dele um vencedor neste domínio. No entanto, partilha a mesma fraqueza que o seu rival: uma autonomia bastante curta.
FICHA TÉCNICA
NISSAN ARIYA 63 KWH ADVANCE
TIPO DE MOTOR Elétrico síncrono, dianteiro
POTÊNCIA 217 CV (160 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 300 Nm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa de relação única
BATERIA Iões de lítio, 66 kWh (63 kWh úteis)
AUTONOMIA (WLTP) 401 km
TEMPO DE CARGA 10h a 7.4 kW (AC 10-100%)
28 min. a 130 kW (DC 20-80%)
VELOCIDADE MÁXIMA 160 km/h
ACELERAÇÃO 7,5 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 17,7 kWh/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 0 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 4.595 / 1.850 / 1.660 mm
PNEUS 235/55 R19
PESO 1.948 kg
BAGAGEIRA 466 l
PREÇO 49.240 €
GAMA DESDE 45.100 €
IMPOSTO DE CIRCULAÇÃO (IUC) 0 €
LANÇAMENTO Setembro de 2022
FICHA TÉCNICA
TOYOTA BZ4X 2WD PREMIUM
TIPO DE MOTOR Elétrico síncrono, dianteiro
POTÊNCIA Total 204 CV (150 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 266 Nm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa de relação única
BATERIA Iões de lítio, 71,4 kWh
AUTONOMIA (WLTP) 436 km
TEMPO DE CARGA 6h 30 a 11 kW AC (100%)
30 min. a 150 kW DC (10-80%)
VELOCIDADE MÁXIMA 160 km/h
ACELERAÇÃO 7,5 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 14,7 kWh/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 0 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 4.690 / 1.860 / 1.600 mm
PNEUS 235/60 R18
PESO 1.970 kg
BAGAGEIRA 452 l
PREÇO 51.690 € (c/ campanha)
GAMA DESDE 48.490 € (c/ campanha)
IMPOSTO DE CIRCULAÇÃO (IUC) 0 €
LANÇAMENTO Novembro de 20