À primeira vista não se vê, mas para além do design, Corsa e 208 são o mesmo carro, tecnologicamente e estruturalmente falando. Incluindo as suas mais recentes adições, na forma de um eficiente sistema mild hybrid que ambos “pediam” devido à sua condição de utilitário. Depois, ao detalhe, surgem as diferenças.
Parece razoável que veículos de cariz urbano tenham, pelo menos, um nível de emissões reduzido. Este facto é, por si só, uma razão de peso para os condutores que se movem ou vivem na cidade. Neste sentido, os nossos protagonistas ostentam este “rótulo”; sendo que ambos podem ir ainda mais longe nesta matéria na medida em que estão também disponíveis em versões totalmente elétricas.
O Grupo Stellantis deixou claro que continuará a apostar em ambas as tecnologias, híbrida e elétrica, no mesmo modelo. Na altura, ponderaram se deviam ou não lançar a alternativa híbrida ligeira, algo que acabou por se revelar interessante devido ao seu caráter avançado e preço competitivo.
Tanto o Opel Corsa como o Peugeot 208 utilizam-na, mas será que aportam algo de diferente face aos rivais fora do conglomerado Stellantis? Digamos que tiram mais partido do sistema elétrico porque este consegue mover o carro sozinho, o que traz benefícios em termos de refinamento e consumo/emissões. É como se tivesse sido criado um “nicho” entre os habituais híbridos ligeiros e os híbridos auto-recarregáveis, embora o parentesco esteja mais próximo dos primeiros.
Dito isto, os nossos protagonistas são a mesma coisa com “embalagens” diferentes: excetuando o desenho, partilham plataforma, motores, caixas de velocidades… Porém, mais a fundo, há pormenores específicos que os diferenciam.
O sistema mild hybrid associa um propulsor térmico (turbo a gasolina), tricilíndrico e de 1.2 litros, com um gerador elétrico que produz 28 CV. Este é alimentado por uma bateria de iões de lítio que, por sua vez, é autoalimentada pelo efeito da travagem regenerativa. Simples. A potência total cifra-se nos 100 CV.
Impulso elétrico
Até aqui nada de novo. O que se apresenta como primícia é o facto de, como já referimos, poderem ser impulsionado em modo exclusivamente elétrico. Serão apenas alguns metros, mas de forma ativa; algo que se agradece sobretudo no arranque porque incrementa o refinamento e também se nota no consumo. De facto, poupa-se cerca de 1,5 litros em média na cidade, em comparação com as respetivas versões de 100 CV sem hibridação. É verdade que o custo aumenta praticamente 3.000 € no 208 (a “nossa” versão GT não tem outra opção de motor, por isso esta diferença diz respeito ao acabamento Allure) e 1.325 € no Corsa, mas é preciso ter em conta que a hibridação ligeira acrescenta a transmissão automática de dupla embraiagem e 6 velocidades, elemento obrigatório para este pequeno motor e que aumenta o conforto, ainda mais em veículos que serão conduzidos frequentemente em cidade. Aqui, referir que os dois modelos são igualmente propostos em versões híbridas ligeiras com o mesmo motor, mas elevado a 136 CV. Uma opção mais efetiva, principalmente, em estrada aberta ou autoestrada e com consumos em cidade semelhantes. São mais 1.200 € no Peugeot e 2.000 € no Opel. Parece um extra relativamente razoável… Mas continuemos o nosso duelo. Já o dissemos, surpreendem pelo protagonismo assumido pelo sistema elétrico em marcha lenta: é com agrado que verificamos que se conduzem durante bastante tempo sem que o motor a gasolina desperte. Nos respetivos painéis de instrumentos é fácil perceber isso, pois o velocímetro digital acende-se a azul (branco quando funcionam a gasolina).
A travagem regenerativa quando se tira o pé do acelerador é bastante evidente e a bateria agradece, no entanto, em determinadas ocasiões, gostaríamos que andassem mais uns metros “à borla”.
O truque do consumo
É evidente que a tónica é colocada no consumo. E conseguem-no com médias de 5 l/100 km em ambos, com picos de 6,5 em autoestrada, onde o sistema MHEV rende bastante menos. Mais, em andamento descontraído e sendo cuidadosos na aceleração, com o perfil ECO ativado no assistente de condução (também conta com modos Normal e Sport) chega-se a fazer médias de 4,5 litros.
Tanto o 208 como o Corsa são carros competentes, confortáveis de conduzir e com uma dinâmica mais do que aceitável. Apesar da genética comum, o carro francês parece ter um acerto ligeiramente mais firme, desportivo, se quisermos. Talvez isso se deva ao excelente “feeling” da direção. Parece mais ágil nas curvas.
Atenção que o Corsa não fica atrás, porém o seu foco está mais direcionado para agradar os ocupantes, apesar do dinâmico acabamento GS, mais estético e de equipamento que outra coisa. Ambos permitem passagens de caixa manuais-sequenciais através de patilhas no volante (existe um programa Manual).
208 mais sofisticado
As diferenças acentuam-se no interior. O Peugeot exibe um desenho mais elaborado e apresenta uma sensação de maior qualidade do que o Opel, que é rematado com materiais mais simples e uma disposição mais convencional, para o bem e para o mal. Haverá quem prefira o posto de condução i-Cockpit e a instrumentação com efeito tridimensional do gaulês; outros irão gostar mais dos tradicionais comandos intuitivos do alemão, embora o painel de instrumentos de “carro elétrico” pareça pequeno.Se a preocupação é a habitabilidade, não há discussão porque é quase idêntica, tal como os 309 litros de bagageira. Não é uma surpresa, porque já o dissemos: são basicamente o mesmo carro. O pior é que atrás o espaço para as pernas é sempre algo justo. Resta analisar as respetivas dotações de equipamento, aqui generosas porque revestem-se dos acabamentos mais completos. Em pontos, o 208 oferece mais de série, mas isso não justifica por si só a avultada diferença de preço.
Texto Eduardo Cano
Fotos Paulo Calisto
CONCLUSÃO
São o praticamente o mesmo carro em termos tecnológicos e mecânicos. Por isso quase não existem diferenças nos consumos, prestações, facilidade de utilização ou habitabilidade. O Corsa propõe um perfil mais modesto em termos de apresentação e acabamentos. O 208 é mais apelativo e reclama um feeling de condução mais dinâmico, mas é consideravelmente mais caro.
FICHA TÉCNICA
OPEL CORSA GS HYBRID 1.2T 100 CV AT6
TIPO DE MOTOR Gasolina, 3 cilindros em linha, turbo
CILINDRADA 1.199 cm3
POTÊNCIA 100 CV às 5.500 rpm
BINÁRIO MÁXIMO 205 Nm às 1.750 rpm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa auto. 6 vel. (dupla embraiagem)
SISTEMA ELÉTRICO
TIPO DE MOTOR Síncrono de ímanes permanentes, dianteiro
POTÊNCIA 28 CV (21 kW)
BINÁRIO 55 Nm
BATERIA Iões de lítio, 48 V, 0,89 kWh
SISTEMA HÍBRIDO
TIPO DE MOTOR Elétrico-gasolina
POTÊNCIA (TOTAL) 100 CV
BINÁRIO (TOTAL) 205 Nm
VELOCIDADE MÁXIMA 190 km/h
ACELERAÇÃO 9,9 s (0 a100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 4,5 l/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 102 g/km (misto)
DIMENSÕES (C/L/A) 4.060 / 1.765 / 1.433 mm
PNEUS 195/55 R16
PESO 1.267 kg
BAGAGEIRA 309-1.081 l
PREÇO 23.950 €
GAMA DESDE 17.875 €
IMPOSTO NCIRCULAÇÃO (IUC) 111,46 €
LANÇAMENTO Fevereiro de 2024
FICHA TÉCNICA
PEUGEOT 208 GT HYBRID 100 CV E-DCS6
TIPO DE MOTOR Gasolina, 3 cilindros em linha, turbo
CILINDRADA 1.199 cm3
POTÊNCIA 100 CV às 5.500 rpm
BINÁRIO MÁXIMO 205 Nm às 1.750 rpm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa auto. 6 vel. (dupla embraiagem)
SISTEMA ELÉTRICO
TIPO DE MOTOR Síncrono de ímanes permanentes, dianteiro
POTÊNCIA 28 CV (21 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 55 Nm
BATERIA Iões de lítio, 48V, 0,89 kWh
SISTEMA HÍBRIDO
TIPO DE MOTOR Gasolina-elétrico
POTÊNCIA (TOTAL) 100 CV
BINÁRIO (TOTAL) 205 Nm
VELOCIDADE MÁXIMA 193 km/h
ACELERAÇÃO 9,8 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 4,6 l/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 104 g/km (misto)
DIMENSÕES (C/L/A) 4.055 / 1.745 / 1.430 mm
PNEUS 205/45 R17
PESO 1.295 kg
BAGAGEIRA 309 l
PREÇO 27.914 €
GAMA DESDE 20.700 €
I.CIRCULAÇÃO (IUC) 111,46 €
LANÇAMENTO Julho de 2024