A vaga de automóveis elétricos vindos do Oriente colocou as marcas europeias em sentido. Neste contexto, a versão de emissões zero do 2008 ganhou um novo fôlego ao adotar um motor e uma bateria mais potentes. Reforços bem-vindos para enfrentar o recém-chegado ATTO 3, da chinesa BYD, aquele que aparenta ser um dos mais completos do segmento.
O automóvel elétrico já não soa só a chinês. E, por osmose, com cada vez mais modelos vindos do Oriente, até os automóveis chineses já não soam a chinês. Isto, se nos mantivermos fiéis à ideia preconcebida que tínhamos deles até há bem pouco tempo. Os produtos provenientes do gigante asiático são, de facto, tão ou mais competentes do que os fabricados na Europa, o que obrigou o Velho Continente a reagir.
Um primeiro passo nesta direção é dado pelo e-2008, a versão elétrica do bem-sucedido SUV urbano da Peugeot (um dos mais vendidos do mercado nacional). Com 4,3 metros de comprimento, está mais próximo de um SUV compacto do que de um citadino. A mais recente inovação é a chegada da nova versão de 156 CV com uma bateria de 54 kWh (a relação química foi alterada em relação à anterior para ser mais eficiente), uma combinação que se junta à versão já existente de 136 CV e bateria de 50 kWh. Aqui temos o mais potente na versão de topo GT.
Um pouco mais de tudo
Com as especificações técnicas na mão, o ATTO 3, o primeiro BYD lançado em Portugal (a gama da marca está em franco crescimento, com destaque para o Dolphin e para a berlina Seal), surge com um cartão de visita bem melhor: 204 CV e uma bateria de 60,5 kWh. E, outro aspeto, não menos relevante, o preço. Este ATTO 3 Design (há outro nível Comfort, mais baixo) começa nos 43 490 €. Um pouco mais acessível do que os 44 440 € do gaulês, sobretudo quando se tem de pagar mais alguns euros para nivelar o equipamento que a BYD oferece de série. O veículo asiático destaca-se por um pacote com tudo incluído que não abdica das ajudas de condução avançadas, teto panorâmico e bancos aquecidos, entre outros.
Não são uma pechincha, mas também não são valores exorbitantes em relação às possíveis alternativas a gasolina ou aos novos híbridos ligeiros, só possíveis para um 2008 que impõe uma gama com todo o tipo de motorizações (trocou recentemente o Diesel por um híbrido de 48V).
Em termos de dimensões, não estão muito distantes, sendo o BYD ligeiramente maior em todas as cotas exteriores, o que se traduz num interior ligeiramente mais generoso. Além disso, a originalidade do ATTO 3 é uma premissa em elementos como as cordas elásticas a fazer lembrar as cordas de uma viola (e produzem som!) para prender objetos nas portas, as saídas de ventilação, os marcantes puxadores interiores das portas com o altifalante integrado e a iluminação ambiente e, por fim, um seletor de velocidades único… E o que dizer do enorme ecrã tátil, que concentra as atenções (o multimédia tem uma pontuação elevada, ao verdadeiro estilo da Tesla) num ambiente de qualidade relativamente elevada.
Aposta diferente
A qualidade e a própria identidade estão bem expressas no renovado E-2008, que é mais apelativo aos olhos do que intuitivo no funcionamento. O conceito i-Cockpit marca presença: o famoso volante de pequenas dimensões, posicionado de forma a que a instrumentação possa ser vista de cima; o painel é mais personalizável do que o dos seus rivais e, nesta versão GT, oferece a possibilidade de apresentar elementos em forma holográfica 3D.
Dependendo da estatura do condutor, é um pouco mais difícil posicionar-se corretamente ao volante, embora com o passar dos quilómetros, e com uma condução serena, isso se torne menos problemático. No geral, o Peugeot é um automóvel confortável, com uma base mais firme do que a do seu rival chinês. Também se sente mais ágil em zonas sinuosas do que o ATTO 3, que dá mais ênfase ao conforto do que a outras qualidades, embora no francês seja mais fácil comandar a direção, os travões ou os modos de condução…
No plano mecânico, porém, o BYD leva a melhor. Claro que os 156 CV do Peugeot são suficientes e oferecem um pouco mais de genica do que a versão de 136 CV, embora não haja diferenças significativas entre os dois. E perante a maior potência do asiático, este está em desvantagem. Por exemplo, este último é quase dois segundos mais rápido nos 0-100 km/h, o que é bastante. Na velocidade máxima, ambos são discretos: 150 km/h de máxima para o E-2008 e 160 para o ATTO 3. Talvez não seja um problema (só se for nas ultrapassagens…?), mas numa autoestrada alemã sem limitações (autobahn), ficam aquém.
Da mesma forma, o chinês vai um pouco mais longe em termos de autonomia. Anuncia 420 km, que traduzidos numa condução real acabam por ser perto de 350 km. Os 400 km da ficha técnica do francês são mais contidos e é difícil aproximarmo-nos desse valor: no final, com um consumo semelhante ao do ATTO 3, entre 17 e 20 kWh/100 km, parece ainda mais limitado para longas distâncias, para as quais, como se vê, nenhum dos dois foi realmente concebido.
A este respeito, as suas potências de carregamento rápido não ajudam a fornecer a energia extra na estrada sem atrasar excessivamente a viagem: valores normais de 100 kW para o Peugeot e de apenas 88 para o BYD, significam que é preciso gastar pelo menos meia hora para carregar 80% da bateria. É uma desvantagem que se agrava nas tomadas normais, limitadas a 7 kW no primeiro caso, com 11 kW trifásicos em opção, enquanto o ATTO 3, já de série, fornece estes 11 kW e até o carregamento bidirecional V2L, para carregar dispositivos externos.
Texto Juan Pablo Esteban
Fotos Paulo Calisto
CONCLUSÃO
Apreciámos o melhor desempenho do E-2008 em estrada, onde é mais preciso e eficaz, e a sua maior rede de pós-venda. Mas os dados colocam o ATTO 3 na frente: é mais rápido, tem mais autonomia (embora não seja assim tão superior), está mais bem equipado e tem um preço mais reduzido. Sem dúvida, um dos melhores automóveis chineses que estão a chegar ao nosso mercado.
FICHA TÉCNICA
BYD ATTO 3 DESIGN
TIPO DE MOTOR Elétrico síncrono de ímanes permanentes
POTÊNCIA 204 CV (150 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 310 Nm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa automática de relação única
BATERIA Fosfato de ferro lítio, 60,48 kWh (úteis)
AUTONOMIA (WLTP) 420 km (565 km, ciclo urbano)
TEMPO DE CARGA 6h30 a 11 kW AC (0-100%)
44 min. a 88 kW DC (0-80%)
VELOCIDADE MÁXIMA 160 km/h
ACELERAÇÃO 7,3 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 15,6 kWh/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 0 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 4.455 / 1.875 / 1.615 mm
PNEUS 235/50 R18
PESO 1.825 kg
BAGAGEIRA 440-1.338 l
PREÇO 43.490 €
GAMA DESDE 41.990 €
IMPOSTO DE CIRCULAÇÃO (IUC) 0 €
LANÇAMENTO Abril de 2023
FICHA TÉCNICA
PEUGEOT E-2008 GT 156 CV
TIPO DE MOTOR Elétrico síncrono de ímanes permanentes
POTÊNCIA 156 CV (115 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 260 Nm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa automática de relação única
BATERIA Iões de lítio, 54 kWh (50,8 kWh úteis)
AUTONOMIA (WLTP) 402 km
TEMPO DE CARGA 5h45 a 11 kW AC (0-100%)
30 min. a 100 kW DC (0-80%)
VELOCIDADE MÁXIMA 150 km/h
ACELERAÇÃO 9,1 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 15,4 kWh/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 0 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 4.304 / 1.775 / 1.550 mm
PNEUS 215/60 R17
PESO 1.663 kg
BAGAGEIRA 434-1.467 l
PREÇO 44.440 €
GAMA DESDE 40.240 €
IMPOSTO DE CIRCULAÇÃO (IUC) 0 €
LANÇAMENTO Janeiro de 2024