Estes dois SUV sofrem de dupla personalidade. Por um lado, são o porta-estandarte da eficiência graças aos seus sistemas híbridos plug-in. Por outro, oferecem um elevado desempenho e um caráter dinâmico, quase de desportivo. O preço é elevado, mas a tecnologia e a exclusividade compensam. Qual deles será o melhor… “galo”
Na grande “mixórdia” que é atualmente o mercado automóvel e a aquisição de um carro, as opções híbridas plug-in continuam a crescer. Parece lógico, uma vez que oferecem o melhor de dois mundos, tração térmica a partir de um motor de combustão e tração elétrica a partir de uma tomada de carregamento e de um motor elétrico, contudo não depende exclusivamente da eletricidade.
No panorama dos PHEV, já existem legiões de modelos à venda, sendo que muitos com a inevitável silhueta SUV e, neste formato, alguns com um toque desportivo mais pronunciado. É o caso dos nossos protagonistas: o Audi Q3, na sua opção de carroçaria Sportback, e o Tonale, porque é simplesmente um Alfa Romeo. A marca italiana foi lenta a abraçar a eletrificação, mas tem sido rápida a recuperar o atraso. O Tonale PHEV é o modelo mais potente e eficiente da gama. É também o único com tração integral Q4.
Já o Audi também tem uma vasta gama de opções, culminando no RS com 400 CV. Esta versão híbrida plug-in debita no total 245 CV, valor que é pouco menos do que os 280 CV do seu rival. Mas há diferenças técnicas óbvias.PHEV diferentes.

O Alfa utiliza um motor a gasolina de 1,3 litros com 180 CV e uma unidade elétrica de 122 CV que está posicionada atrás e aciona apenas as rodas traseiras. O Q3 Sportback tem uma cilindrada ligeiramente superior (1,4 litros), mas é menos potente: 150 CV. O mesmo se aplica ao sistema elétrico, que produz 116 CV; neste modelo, as duas unidades de potência estão localizadas à frente e a tração é dianteira.
A bateria é de iões de lítio nos dois, mas a capacidade útil é mais generosa no Alfa Romeo. É por isso que a autonomia elétrica é superior: 62 km contra 53 km do seu rival.
Esta é precisamente a grande vantagem de ambos, embora a realidade seja um pouco diferente: em modo elétrico conseguimos percorrer 41 km no modelo alemão e 49 km no italiano, distâncias suficientes para a utilização diária de milhares de condutores, o que se traduz em custos de utilização de cerca de 2,5-3 euros, se carregarmos a bateria em casa a preços mais reduzidos, como no período noturno, por exemplo. Estas distâncias aumentam consideravelmente se conduzirmos apenas em cidade. Contudo, a nossa comparação incluiu dois terços de utilização em estradas mais rápidas, um cenário que reduz consideravelmente a autonomia elétrica (o Tonale atinge 135 km/h em modo EV e o Q3 Sportback, 140).
Depois disso, o consumo torna-se uma verdadeira montanha russa. Com a bateria carregada e em modo híbrido, o Audi faz uma média de 6,2 l/100 km e, sem energia elétrica disponível, a média dispara para 7,7l/100 km. No mesmo “modo” de condução, o Tonale rubrica 5,9 l/100 km e 7,2 l/100 km. O Alfa Romeo é, portanto, mais eficiente, mas nunca será boa ideia forçar o motor a carregar durante a condução, pois o consumo de combustível sobe para mais de 10 litros em ambos. Oferecem também a possibilidade de armazenar energia na bateria.
Nos dois casos, o arranque faz-se sempre em modo elétrico. Pode-se também forçar a condução apenas em modo EV quando estão suficientemente carregados. No Audi, tecla Drive Select dos modo de condução propõe os perfis Comfort, Auto, Dynamic e Individual. No Tonale, este último é designado por DNA e inclui ainda os modos elétrico, híbrido e desportivo. A ativação deste último aciona o ajuste mais firme da suspensão pilotada e varia o mapa de funcionamento da direção, caixa de velocidades e acelerador. O mesmo acontece com o seu rival.
A caixa é diferente
As diferenças são igualmente tentes na transmissão automática. Ambos têm caixas de seis velocidades, mas o Q3 Sportback utiliza um sistema de dupla embraiagem, enquanto o Tonale prefere um conversor de binário. Podem ser engrenadas sequencialmente, quer a partir da alavanca, quer através das patilhas atrás do volante. No alemão, rodam em conjunto com o volante; no italiano, são fixas, em alumínio e enormes, para aumentar a sensação de dinamismo na condução, tudo muito Ferrari. O problema é que estão demasiado perto das hastes dos indicadores de mudança de direção e dos limpa para-brisas e estas, mais cedo ou mais tarde, acabam por atrapalhar.
As respetivas baterias podem ser carregadas pelo efeito da travagem regenerativa (ao travar e acelerar), que é mais acentuado no Audi. E porque a bateria fica vazia, é preciso recorrer ao cabo e a uma tomada externa. Aí, o Tonale pode receber até 7,4 kW em corrente alternada enquanto o seu rival se fica pelos 3,7. Assim, se estiver com pressa, vai precisar de 2,5 horas para completar a carga do primeiro, em comparação com as 4 horas exigidas pelo segundo. Em qualquer caso, não é necessário mais para alimentar a bateria durante a noite. Mesmo numa simples tomada doméstica de 2,4 kW, são precisas cerca de 6 horas.
Competitivos
Dinamicamente, são verdadeiros desportivos em potência. O Tonale é mais poderoso e mais potente. É ágil graças a um excelente chassis com uma direção rápida e precisa. O Q3 Sportback é mais lento, tem menos “disparo” quando se carrega no acelerador e, quando a bateria se esgota, o motor a gasolina é mais limitado. No entanto, oferece uma sensação geral mais premium na condução e sente-se mais estável porque o seu centro de gravidade é mais baixo. É também 95 kg mais leve e a direção progressiva, com apenas 2,1 voltas do volante, é muito mais precisa. Em termos de conforto, é superior.
Com dimensões exteriores semelhantes, são muito idênticos em termos de espaço interior, ainda que o Audi seja mais baixo atrás por culpa da carroçaria SUV-Coupé. O Tonale é bem construído e tem um toque premium, mas o Q3 Sportback é um Audi, o que significa que o grau de precisão é mais elevado. Ambos têm um layout de cockpit digital, mais desportivo em geral no Alfa, embora os bancos dianteiros sejam soberbos em ambos.
Atrás, há pormenores que os diferenciam. O Tonale oferece mais espaço para as pernas, enquanto o Q3 Sportback é mais confortável para três pessoas por ser mais largo. Tem também um trunfo prático na manga, sob a forma de um banco traseiro regulável longitudinalmente em secções, o que não existe no seu rival. De resto, a bagageira é a grande desvantagem de ambos. Para um automóvel como o Q3 Sportback, 380 litros de espaço de bagageira é, no mínimo, suficiente. O Tonale acrescenta mais 5 litros, apesar da eliminação do piso duplo de outros modelos da marca, tudo por causa da posição do motor elétrico.
Corretos, mas pouco mais
Resta analisar o equipamento, muito generoso no italiano com acabamento Veloce, sendo um pouco mais contido no seu adversário de ocasião que, apesar de ser mais caro, obriga a percorrer o menu de opções para igualar o equipamento daquele. Em todo o caso, não falta nada em ambos, sobretudo em termos de segurança ou de conetividade, embora o modelo alemão seja substancialmente mais caro.
Texto E. Cano
Fotos Paulo Calisto
CONCLUSÃO
A autonomia elétrica destes dois SUV, permite um custo de utilização razoável. Simultaneamente, são potentes, andam e curvam bem. Uma dualidade apelativa que o Tonale resolve a seu favor por culpa de um preço inferior.
FICHA TÉCNICA
ALFA ROMEO TONALE VELOCE PLUG-IN HYBRID Q4
TIPO DE MOTOR Gasolina, 4 cilindros em linha, turbo
CILINDRADA 1.332 cm3
POTENCIA 180 CV às 5.750 rpm
BINÁRIO MÁXIMO 270 Nm às 1.850 rpm
TRANSMISSÃO Integral, caixa auto. 6 vel. (conversor de binário)
SISTEMA ELÉTRICO
TIPO DE MOTOR Síncrono de íman permanente, traseiro
POTÊNCIA MÁXIMA 122 CV (90 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 250 Nm
BATERIA Iões de lítio, 15,5 kWh (12 úteis)
AUTONOMIA (WLTP) 62 km
SISTEMA HÍBRIDO
TIPO DE MOTOR Elétrico-gasolina, PHEV
POTÊNCIA COMBINADA 280 CV
BINÁRIO COMBINADO N.D.
VELOCIDADE MÁXIMA 206 km/h
ACELERAÇÃO 6,2 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 1,3 l/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 29 g/km (misto)
DIMENSÕES (C/L/A) 4.528 / 1.841 / 1.601 mm
PNEUS 235/40 R19
PESO 1.910 kg
BAGAGEIRA 385-1.430 l
PREÇO 57.669 €
GAMA DESDE 41.850 €
IMPOSTO CIRCULAÇÃO (IUC) 158,29 €
LANÇAMENTO Fevereiro de 2023
FICHA TÉCNICA
AUDI Q3 45 TFSIE 245 CV S TRONIC S LINE
TIPO DE MOTOR Gasolina, 4 cilindros em linha, turbo
CILINDRADA 1.395 cm3
POTENCIA 150 CV entre as 5.000 e as 6.000 rpm
BINÁRIO MÁXIMO 250 Nm entre as 1.550 e as 3.500 rpm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa auto. 6 vel. (dupla embraiagem)
SISTEMA ELÉTRICO
TIPO DE MOTOR Elétrico, central traseiro
POTÊNCIA MÁXIMA 117 CV (86 kW)
BINÁRIO MÁXIMO 330 Nm
BATERIA Iões de lítio, 12,8 kWh
AUTONOMIA (WLTP) 55 km
SISTEMA HÍBRIDO
TIPO DE MOTOR Elétrico-gasolina, PHEV
POTÊNCIA COMBINADA 245 CV
BINÁRIO COMBINADO 400 Nm
VELOCIDADE MÁXIMA 210 km/h
ACELERAÇÃO 7,3 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 1,4 l/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 31 g/km (misto)
DIMENSÕES (C/L/A) 4.490 / 1.851 / 1.614 mm
PNEUS 235/55 R18
PESO 1.829 kg
BAGAGEIRA 380-1.375 l
PREÇO 55.666 €
GAMA DESDE 45.632 €
IMPOSTO CIRCULAÇÃO (IUC) 128,29 €
LANÇAMENTO Março de 2021