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A China tem feito o trabalho de casa no que toca à utilização de energias renováveis. Tanto que até foi longe demais, porque produziu tantas baterias que agora não sabe o que fazer com elas.

Um dos aspetos mais criticados da China é a poluição. O gigante asiático é o maior poluidor do mundo, mas é a União Europeia, cujo impacto na poluição global é mínimo, que está a fazer os maiores esforços para reduzir as emissões.

O crescimento da China nas últimas décadas foi espetacular, mas à custa de um forte aumento das emissões para a atmosfera.

O desenvolvimento industrial da China fez aumentar as suas emissões de dióxido de carbono em 207% desde 2000 e, até 2023, o carvão representava quase dois terços da sua produção de eletricidade.

No entanto, a China também começou a recorrer às energias renováveis para reduzir as suas emissões e, até 2024, o Governo chinês estima que cerca de 40% da sua eletricidade será produzida a partir de fontes renováveis, sendo a energia solar e eólica responsável por quase 1 350 GW por ano, de um total de 3 300 GW.

Enquanto a Europa e a América Latina estão a fazer acordos, as marcas chinesas estão a esfregar as mãos…
De facto, a China impulsionou significativamente as energias renováveis nos últimos dois anos, tendo alcançado um desenvolvimento industrial que lhe permite competir ou mesmo ultrapassar as principais potências mundiais.

A China está agora pronta a reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis e, por conseguinte, as suas emissões para o planeta. Conseguiu-o através de um programa de incentivos à criação de parques solares e eólicos.

Estas instalações são obrigadas por lei a dispor de sistemas de armazenamento para reter os excedentes de produção. No entanto, não basta fabricar baterias, é preciso também utilizá-las. Por outras palavras, não faz sentido produzir muitas baterias se não forem utilizadas.

O desenvolvimento das energias renováveis é acompanhado por outro, o dos sistemas de armazenamento da energia produzida, que é crucial, uma vez que as energias renováveis se caraterizam pela sua intermitência: se não há sol, não há energia solar; se não há vento (ou há demasiado), não há energia eólica, e assim por diante.

Por isso, a China tem estado a “inchar” para fabricar baterias capazes de armazenar energia excedentária para ser utilizada quando necessário. O problema é que o tem feito em demasia. Em 2024, a sua capacidade de armazenamento de energia terá aumentado mais de 40%, para mais de 44 GW.
Mas estas baterias quase não são utilizadas. A Bloomberg teve acesso a dados da Agência Nacional de Energia da China (NEA) sobre a área fornecida pela State Grid Corp. of China, que cobre mais de 80% do país. De acordo com os dados, o sistema médio esteve em utilização durante 390 horas e teve 93 ciclos de carga/descarga nos primeiros seis meses do ano.

Isto significa que as baterias utilizadas para armazenar a energia excedente proveniente de fontes renováveis funcionaram uma vez em cada dois dias e estiveram inactivas 91% do tempo.

A produção de eletricidade já é barata na China e a venda da energia excedente produzida não é rentável. Para a Bloomberg, uma solução poderia passar por tarifas dinâmicas mais flexíveis, que mudassem em diferentes alturas do dia: “Isso pode criar uma arbitragem comercial de energia que os sistemas de armazenamento podem aproveitar.

Por outro lado, o facto de uma quantidade de energia só estar disponível durante algumas horas pode criar problemas numa rede concebida para distribuir energia continuamente ao longo do dia. Isto pode ser minimizado com a utilização de baterias.

A China orgulha-se de atingir os seus objetivos de redução de emissões seis anos antes do previsto, graças à utilização de energias renováveis. Agora, tem de trabalhar para aproveitar ao máximo toda essa energia. Caso contrário, o esforço terá sido em vão.

Ricardo Carvalho

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