Num país onde os veículos de passageiros derivados de carros de trabalho são olhados com desdém, ainda existem algumas marcas que tentam lançar produtos do género, mesmo sabendo que há dois modelos dominantes. A Renault aposta na Trafic Spaceclass para entrar num mercado que em Portugal tem o seu espaço.
Num segmento de mercado muito reduzido e que é dominado pela Mercedes-Benz Classe V e pela Volkswagen Multivan, ainda existe quem tente “roubar” um lugar de acesso difícil. Depois de, em 2017, a Citroën e a Peugeot e em 2019 a Opel e a Toyota, marcarem as suas posições com a Spacetourer, Expert Tepee, Zafira Life ou Proace, é a vez da Renault voltar a tentar conquistar, com a versão mais luxuosa da Trafic (recentemente renovada), um pedaço deste pequeno bolo.
Em Portugal, quem compra um automóvel com estas caraterísticas é porque realmente precisa dele para fazer transporte VIP ou Shuttles. Não vemos, infelizmente, como noutros países, famílias numerosas a apostarem neste formato de transporte, até porque é caro e porque paga classe 2 nas portagens.
O domínio alemão neste mercado é tão grande que mesmo em França, no país do chauvinismo, basta chegar ao aeroporto de Paris para ver as Mercedes-Benz Classe V alinhadas para transportar os homens de negócios que chegam a todas as horas.
Ainda assim, e apesar de todo este poderio, a Renault Spaceclass acredita ter uma palavra a dizer. A estética da Trafic sempre foi apelativa, e a última geração também aposta de forma reforçada nessa premissa. Esta versão mais refinada conta com jantes específicas, pintura exclusiva e uma linha de LED em forma de “L” nas óticas dianteiras, que ajudam a sublinhar as ambições discretas, mas mais luxuosas da Spaceclass, que contrastam com a tendência mais utilitária da Trafic Combi.
Pode dizer-se que esta é a versão assinatura da Trafic. Dos lados a indicação Spaceclass também ajuda a descortinar esta como uma Trafic diferente.
Lá dentro também há sinal das mudanças. Forros em todos os pilares e painéis, sete lugares forrados a pele (pack premium com lotação reduzida a 1 lugar, dois bancos giratórios e uma mesa ao centro por 4550 euros), sendo que há duas poltronas à frente, mais duas na fila central, com base giratória, e um banco de três lugares na terceira fila. Estes bancos movem-se em calhas colocadas no piso, onde também pontifica uma mesa com duas abas, que pode ser rebatida a 100%. A Renault diz que se podem fazer 50 configurações diferentes de bancos. O acesso é feito por uma porta lateral e ainda pelo interior do veículo que permite grande versatilidade.
Interior à “Clio”
Aberto o portão traseiro, encontramos uma bagageira generosa com uma chapeleira resistente que permite tapar as malas nela guardadas. Na versão L2, em ensaio, logo mais comprida, conta com uma volumetria de 1800 litros. O ambiente interior é íntimo (os vidros são escurecidos) e profissional, até porque existem várias portas USB, cada vez mais indispensáveis, mas também verdadeiras tomadas de 220 V. À frente encontramos um volante forrado a couro, sistema de navegação, ar condicionado automático, cruise control e ainda câmara de marcha-atrás.
O sistema multimédia Renault Easy Link, com ecrã de oito polegadas e navegação incluída (custa mais 922 euros), faz a sua estreia na SpaceClass, sendo compatível com Android Auto e Apple CapPlay. O carregamento de smartphone por indução é outra das novidades neste modelo, mas custa mais 147 euros. Propõe ainda novos sistemas de assistência à condução, incluindo o regulador de velocidades adaptativo (ACC), travagem ativa de emergência ou o alerta de mudança involuntária de faixa de rodagem. Uma outra. novidade é o alerta de ângulo morto.
Motor Diesel de 170 CV
Debaixo do capot, a Trafic Spaceclass conta com motor 2.0 dCi de 170 CV (existem ainda opções de 110 e 150 CV do mesmo bloco). Surge acoplado a uma caixa automática EDC de dupla embraiagem e de seis relações, que gere muito bem o motor e permite bons ritmos de andamento ou facilitar as manobras em ambiente urbano. De um automóvel com quase 5 m de comprimento não se pode esperar muito, a não ser conforto. Em bom piso, a Spaceclass rola bem, suave e serena, em mau piso o caso muda de figura. A suspensão não é tão célere a digerir os buracos como seria de esperar, e mesmo com o chassis longo, sente-se alguma firmeza no amortecimento. Os bancos, felizmente, minimizam esta sensação. Cá atrás, nas poltronas viaja-se bem, em bancos que nos seguram bem o corpo.
Quanto ao motor, os 170 cv assumem-se como o motor ideal para este monovolume. Nunca há a sensação de submotorização, apesar do peso, e a caixa, muito bem escalonada, explora de forma ideal este bloco. Os consumos rondam, em média, os 10 l/100 km, a rolar dentro dos limites legais, subindo para lá dos 11 /100 km quando tentamos rolar acima da média permitida por lei.
Este “monovolume” não terá vida fácil no mercado, até porque, como já foi mencionado, é difícil bater os dois players alemães que tomam a liderança. Têm ambos mais motor, melhor qualidade de construção e preços quase idênticos, ainda que esta Renault seja um pouco mais barata. Os preços arrancam nos 55 718 euros, todavia a unidade ensaiada, com alguns opcionais à mistura custa a módica quantia de… 79 936 euros.
Texto: Ricardo Carvalho
Ficha técnica
Renault Grand Spaceclass L2 Blue dCi 170 EDC 7lug
TIPO DE MOTOR Gasóleo, 4 cilindros em linha, turbo
CILINDRADA 1.997 cm3
POTÊNCIA 170 CV às 3500 rpm
BINÁRIO MÁXIMO 380 Nm às 1500 rpm
TRANSMISSÃO Dianteira, caixa de dupla embraiagem de 7 vel.
V. MÁXIMA 186 km/h
ACELERAÇÃO 10,6 s (0 a 100 km/h)
CONSUMO (WLTP) 7,4 l/100 km (misto)
EMISSÕES CO2 (WLTP) 200 g/km
DIMENSÕES (C/L/A) 5.480 / 1.956/ 1.974 mm
PNEUS 215/60 R17
PESO n.d.
BAGAGEIRA 890 litros
PREÇO 79 936 €
GAMA DESDE 55 718 €
I.CIRCULAÇÃO (IUC) 259,49 €